segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pastoral da Diretoria da Assembléia Geral da IPI do Brasil

Caros irmãos e irmãs,

Estamos completando mais um ano como Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. São decorridos 108 anos desde aquela memorável reunião que marcou o início desta jornada.

Estas ocasiões sempre são oportunas para algumas reflexões, assim como na história do povo de Israel as festas eram não apenas uma celebração festiva, mas também tempo de reavivar a memória e renovar as esperanças. A celebração da Páscoa, por exemplo, era a oportunidade para reviverem a história do êxodo, atualizando seu significado e reafirmando a esperança no Deus Libertador. Gamaliel, o grande mestre judaico, referindo-se à Páscoa, exortava para que cada geração e cada pessoa se considerassem como tendo sido ela própria liberta do Egito. Era uma reatualização do evento histórico.

Assim também, ao celebrarmos este “31 de Julho”, devemos fazê-lo como se cada um de nós tivesse vivido aquele momento histórico, com suas angústias e esperanças. Importa, pois, retomar alguns fatos daquele momento que ainda hoje representam desafios para nós.

Primeiro - A IPI do Brasil surgiu dentro do empenho pela evangelização deste país. Estava no coração daqueles pioneiros a necessidade da igreja brasileira assumir a responsabilidade pela evangelização. Decorridos tantos anos, nos perguntamos se existe tarefa mais urgente do que anunciar o evangelho a este país através de todos os meios, recursos e a todas as pessoas? Há uma grande oportunidade para proclamação do evangelho neste país. Os campos estão brancos para a ceifa. As portas estão abertas. Há receptividade. As pessoas estão sedentas e abertas. O que nos impede?
Segundo - A preocupação pela formação teológica de qualidade e adequada à realidade brasileira. Uma frase de Eduardo Carlos Pereira expressou bem essa preocupação: “A educação dos filhos da igreja pela igreja e para a igreja”. Era o cuidado que a igreja deveria ter na formação cristã e teológica dos seus filhos e candidatos ao ministério, devendo esta formação nunca perder de vista o horizonte da igreja. Esta preocupação ainda se faz atual na medida em que a igreja deve investir cuidadosa e atentamente na formação de seus quadros, para que sirvam à igreja e atendam suas necessidades, e não usem a igreja como trampolim para outros projetos pessoais. 

Terceiro - A luta pela autonomia da igreja brasileira. Esta luta, por um lado, representava a maturidade da liderança nacional capaz gerir os destinos da nascente igreja, mas, por outro, era o duro desafio de fazer face às suas necessidades, vivendo sem a expectativa fácil de recursos externos. Esta responsabilidade gerou e deve gerar ainda o senso ou a certeza que Deus mesmo é o Senhor da obra e dos recursos, e que o seu trabalho não é determinado fundamentalmente pela disponibilidade de recursos financeiros, mas pela obediência. Realizamos o trabalho não porque dispomos de recursos financeiros, mas porque, além de ser importante, é uma questão de obediência. Se os recursos financeiros determinam nossas decisões, significa que nossa obediência é condicionada a Mamom e não ao Senhor da Igreja. Deus depende de pessoas obedientes para a realização dos seus planos. Os recursos Ele sempre provê.

Quarto - No debate sobre a compatibilidade entre fé cristã e as práticas maçônicas estava a preocupação com o caráter exclusivo da lealdade a Cristo, bem como a recusa a quaisquer concessões doutrinárias, tendo em vista possíveis benefícios advindos da filiação à Maçonaria. A Maçonaria defendera, é verdade, a liberdade religiosa e contribuíra para a proclamação da República, culminando com a separação entre igreja e estado. Essas conquistas, importantes sem dúvida para o protestantismo, não poderiam levar pastores e presbíteros a aderirem à Maçonaria, fazendo concessões doutrinárias, como de fato ocorreu. Os pastores e presbíteros que se levantaram contra essa atitude não estavam combatendo a Maçonaria, mas a sua incompatibilidade com a fé cristã e o caráter inegociável de algumas doutrinas.
A história tem comprovado a pertinência daquela decisão. Todavia, devemos nos perguntar: Quais as seduções que a igreja sofre hoje? Quais as pressões da cultura que se apresentam hoje como inofensivas ou normais, mas que comprometem nossa lealdade absoluta a Jesus Cristo? 

Estas e outras questões devem fazer parte das nossas celebrações neste “31 de Julho”. Somos herdeiros de uma história de luta, de sacrifícios, de sonhos e de propósitos de servir ao Senhor com integridade e coerência. Que igreja vamos deixar para a geração que nos sucederá? Que exemplos de amor e sacrifício serão escritos com nossa vida? Que modelos de fidelidade ao evangelho deixaremos para nossos filhos? 

Tradicionalmente, temos uma semana de oração antecedendo às celebrações. O Estandarte (edição de unho) publicou o Caderno de Oração com os temas para cada dia. A participação de todas as igrejas, além do benefício próprio da oração, fortalece nosso senso de identidade. Queremos, contudo, desafiar a igreja a orarmos não apenas uma semana, mas iniciar uma jornada de oração durante todo o semestre. Serão enfatizados em cada semestre da presente gestão assuntos básicos da vida cristã, tais como o estudo da Palavra, o anúncio, a celebração, a generosidade, o acolhimento, o serviço, etc. Todavia, nenhum tema é tão prioritário e urgente quanto a oração. Retornaremos a este assunto brevemente. 

Partilhando do mesmo empenho do apóstolo Paulo, coloquemo-nos de joelhos para discernir a vontade de Deus e, com ousadia, cumprir nossa vocação, conforme expresso na sua carta aos Efésios: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.14-21)


Diretoria da AG da IPI do Brasil

domingo, 5 de junho de 2011

A mordomia da influência (2ª Coríntios 2.13-17; 3.1-6)

Silas de Oliveira 

Na linguagem popular do nosso país, a palavra mordomia tem um sentido pejorativo, significando uma pessoa folgada ou coisa parecida. Entretanto, no contexto bíblico, a raiz da palavra tem um significado muito mais profundo que podemos imaginar. Mordomia tem o sentido de administração, ou seja, o mordomo era aquele que administrava os negócios de seu senhor. Biblicamente falando, são diversos os tipos de mordomias que necessitamos administrar em nossa caminhada cristã, mas cabe aqui uma referência particular à mordomia da influência, tão presente em nosso dia a dia. Como ser social, exercemos e recebemos as mais diversas influências, sejam elas boas ou ruins.

De acordo com o texto acima, o apóstolo estava sendo acusado de buscar glória própria, pois um grupo de pessoas da igreja de Corinto se considerava mais espiritual que os demais. Enfatiza que “vós sois a nossa carta...conhecida e lida por todos os homens” ( 2 ). Analisemos com cuidado por onde passa nossa mordomia da influência: 

1) LAR – É no lar que vivemos nossa vida mais real. Nele somos transparentes e revelamos aspectos da nossa identidade que geralmente são ocultos à maioria das pessoas. Muitas vezes a vida de um indivíduo dentro do lar está em total conflito com a que vive fora dele, esquecendo-se completamente que é “Carta de Cristo” 
2) NEGÓCIOS – Costuma-se dizer: “Negócio é negócio; religião à parte”. Esta afirmação contradiz-se totalmente com  a  orientação  bíblica de que tudo pertence a Deus. O verdadeiro cristão tem como Companheiro Maior em seus negócios a pessoa de Jesus Cristo. Como patrões e empregados não podemos nos esquecer de que somos “Carta de Cristo”. 
3) IGREJA – No dia a dia da Igreja temos a enorme oportunidade de influenciar uns aos outros através do grande amor de Deus. Nossas atitudes, gestos e ações são instrumentos da proclamação da graça divina. Pais e filhos, esposas e esposos, irmãos e irmãs têm a rica oportunidade de revelarem a verdadeira influência procedente do Espírito Santo, pois somos “Carta de Cristo”.
4) SOCIEDADE – Esta é a área mais ampla da influência humana. Não podemos e não conseguimos nos isolar. Somos o fermento de Deus no mundo (massa), para a total transformação do ser humano. O nosso testemunho na sociedade fala muito mais alto que uma multidão de palavras proferidas dia após dia, afinal, somos “carta lida por todos os homens”.

Lembremos que a nossa vida neste mundo é limitada. Quando recebemos uma carta, a primeira coisa que fazemos é abrir rapidamente o envelope para ler e conhecer o seu conteúdo. Assim é a vida do cristão no mundo. Todos nos lêem, sejam as nossas influências boas ou ruins. Somos luz do mundo e sal da terra. Que possamos ser a verdadeira carta de Cristo, conhecida e lida por todas as pessoas que o Senhor colocar em nosso caminho. 


O Rev. Silas de Oliveira é pastor da 1ª IPI de Limeira - SP